domingo, 4 de novembro de 2007

Curruíra

Não nasci para as grandes alturas,
Vôos panorâmicos,
Alvuras, espaços,
Olhares festivos,
Manobras de águia
De garras em mãos...

Nasci para andar nas calçadas
Em dez palmos de terra,
Um pé-de-serra
Vôos rasos, sorrisos,
Subir e descer escadas,
Os pés rentes ao chão...

Melhor ser condutor de lanternas
Na ingente luta hodierna
Peixe pra lá de pequeno, Curruíra,
Lá onde ainda existe paixão...
Passarinho grande não!

Que ver o mundo só de cima
Estrábico...
Outro fã do não-me-toques,
Rei dos "Flashes", enfoques,
E cultor da vida propina...

Pois, quem só conhece as colinas,
Sai de cima!
Nunca viu abraço não...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Apenas Um Instante

Instantes...

Apenas um instante
Ou uma fração de segundo
É o que preciso de ti
Pra entrar em frenesi
Intensa, loucamente e
Maior...que o nosso pobre mundo


Momentos...

Preciso de um só momento
Pra fundimos nosso querer
E deixamos rolar fantasias
Preenchendo estas vidas vazias
Num creptar tão gostoso
De forno a lenha a arder

Fração...

Pequenina areia do tempo
Que eu preciso no momento
Mas, você não está aqui...

E a essência dessa magia
A enlouquecer meus segundos
Morreu por falta de poesia
E dessas enormes distâncias
Entre o teu e o meu
Pobre mundo...

domingo, 21 de outubro de 2007

Medo de Mim

Trago o coração todo blindado
Das tocaias que me seguem de roldão
Volta e meia há armadilhas em meia volta
O carinho encastela e não se solta
Fica inibida a emoção...

E vou por essa estrada ligeiro
Sem atinar se a neve cai em Alcatraz
As armadilhas têm as bocas escancaradas
Há tocaias nas saias coradas
Fecho todas as portas, nem olho pra trás...

sábado, 20 de outubro de 2007

Venho de Longe

Eu venho de muito longe
De traz da alta montanha
A distância ali é tamanha
Dá muito medo de olhar

Eu venho de muito longe
De traz de um longo deserto
E carrego, em mim, desperto...
Um medo estranhado de amar

E se me surge um caminho
Um atalho, algum desvio,
Com ar de projeto de um ninho
Que possa privar-me do estio

Vou pra lá feito um menino
Seja o caminho onde for
Porque venho de muito longe
Perdido...e ainda em busca do amor

Vento do Norte

O vento que sopra do Norte
Traz perfumes e heranças,
Enquanto faz troça e folia,
De um doce tempo criança
Mundo ainda por nascer...

Sinta ele em teu rosto
Farfalhando de esperança
Com cheiros de encanto e poesia
E roube toda essa magia
Nascendo com o amanhecer

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

A Re-voada das Flores

Nas voltas e re-voltas
Desta longa espera
Entre tantos sonos, sonhos,
E coloridas quimeras

No lento caminhar
Das horas
E no pulsar
De todas as eras

Você é e sempre será
A cigana mais aguardada
Um marco e o parto
De uma imensa jornada

O que seria do mundo
Sem a alma dos
Teus perfumes
Dulcificando o amargo
E o rancor
De tantos eus-profundos?

E o que seria da esfera
Bólido de dor incolor
Fome infinita de amor
Sem o retorno de ti
Primavera?

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

CRIME PREMEDITADO

O levitar de mãos cheias de fome
O nó sem gravata no peito

A vontade de dizer baixinho o teu nome
Beijar-te doce e devagarinho

Depois te carregar no colo,
Pró leito,

E te matar de tanto carinho...

PLENILÚNIO

Enquanto os olhares teciam
Assanhos discretos,
Ao longe, num céu
Ainda quase deserto,
O horizonte principiava o incendiar...

E a lua...
Lembrando o olhar
De cigana encantada
Luzindo na noite
A sua saia rodada
Surge faceira a dançar.

Vento do Entardecer

Olhar a tarde partindo
E pensar no dia se pondo
Sempre me traz
Grande encantamento.

Talvez por eu achar
Que amanhã, novamente,
Essa tardinha com ar de inocente
Virá fazer sombra e
Acompanhamento,
Nas trilhas do mesmo momento.

Então...
Eu me acalmo e aceito
Ao em pós dessa tardinha,
Morrente,
O luto de seda noturna
E até essa lágrima orvalhada
Nos vestígios de dor e tristeza
No hálito, impuro,
Das espessas madrugadas.

E, por isso, aceito também
Todos os meus sonhos já partidos
Além dessa minha tarde,
Inoportuna tarde,
Precocemente chegando,
Enquanto ainda tarda o sorriso
De uma amiga
Atrasada...

Pois sei que ainda trago comigo,
Na menina-dos-olhos,
Meninos,
O ouro de cada entardecer.
E carrego no coração,
Escondidos,
Encantos de alma estrelada.


E percebo que a razão
Do nosso diuturno viver
Será sempre um nascer
Se encantar, morrer,
Fecundar, renascer,
Amar,
Crescer e orvalhar...

O ciclo das madrugadas.

Rebentos

Nem é primavera ainda
Mas, no coração,
O inverno da emoção
Disse adeus e,
Cambaleando,
Partiu...

Pois, você se aproximou assim, assim,
Como um botão fora de hora
Abriu um sorriso de rosa
Aconchegou-se vagarosa
E, sem demora,
Floriu...

E a neve que em mim havia
Derretendo pelas encostas
Fez-se riozinho silente
Onde um guri confiante
Deitou seus navios em papel

E eles se foram pra vida
Sem nem perguntar de cuidados
Levando na proa escondidos
Bebês de rebentos floridos
De um botão inesperado

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

PARÓDIA

Queria ser muito famoso e
Poder dar um bocado de autógrafos,
Desajustando todos os sismógrafos,
Quando o povo até a mim acorresse,
Como a um ícone muito charmoso.

Queria voar alto, mas tão alto,
Que minhas mãos tocassem as estrelas.
E eu olhando de cima pra baixo,
Acenasse as mãos como um astro
Num carrão a rodar pelo asfalto.

Eu queria. Ah! Como eu queria!
Mas, só tenho este fraque de chita,
E este medo tremendo da vida...
Pois, se me sinto bem rente à vitória,
Eu me afasto à distância infinita.

Por isso acho esta vida muito ingrata:
Alguns têm caviar, outros só lingüiça,
E eu já nasci com este “Oscar”de lata...
Igual um CD que, de tão pirata,
Me fizesse varar os dias a correr da “puliça”.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

FIM DE AMOR

Num recanto solitário,

Manhã bonita,

Pequenina lágrima de orvalho,

Caindo da rosa,

Foi adormecer nas folhas verdes

De um antúlio logo abaixo.


Um cravo a espreguiçar-se,

Por ali, bem perto da roseira,

Deixou cair o orvalho como pranto,

Manso e cheio de ternura,

Que foi se abraçar docemente,

Sob o olhar paterno do antúlio,

À linda gotinha de rosa.


Daí surgiu um namoro bonito

Regado a carinhos e perfumes,

Promessas, afagos e denguices,

Sorrisos e ai-de-mins,

Até vir o primeiro vento da manhã

E balançar todo o jardim.


E eis que agora

Viraram gotas separadas,

Um par de lágrimas salgadas,

Simplesmente...


- Adeus, gotinha querida!

Bradou o orvalho da rosa

- Quem sabe o próximo vento?

Falou a do cravo em desalento...


E ficaram secando ao relento...

EFEMÉRIDES

Faleceu ontem...
De morte torrencialmente morrida
Sicrano dos Santos Tempes Tarde.

Nasceu sem tempo de deixar carro na garagem
Endereço na lista telefônica
O nome espalhado pelos muros da cidade
Cadastro no sistema financeiro
Ou títulos e propriedades

Deixou só uma chorosa viúva
E sua vida nada cor-de-rosa
Além de parentes e amigos de aventura
À espera da próxima chuva.

A melhor camisa que tinha
A que possivelmente mais usava
Estampava um ”10” pelo costado
E um zero zerado na cintura

E no burburinho que foi formado,
Quem seria o culpado?


Alguns elegeram o escorregão
Do morro acima, barraco abaixo
Outros implicaram com a chuva
Que tem sempre o seu pingo de culpa
E os mais exaltados,
Estar todo o morro
Entalhado...
Em mina de pedra-sabão

Só eu não quis arrolar palpites

Pois...
De longe...
Sabia do horário nobre surgindo
E que o bom é brindar
Esse nosso mundo tão lindo
Por detrás dos muros e o fosso abissal
Onde fulgura meu castelo de cetim.

Onde este caracol humaníndio
Se senta a se drogar assistindo
O show da aldeia global
(plim!plim!)

De onde posso saber do mundo
Sem riscos...
E testemunhar, assepticamente,
Barracos envenenados apostando corrida
Em meio à tempestade marota

Entre uma pipoquinha e outra
Um wiskinho e gelinhos
Um terno piscar de olhos
E um inocente abrir de boca

O ULTIMATO

A rosa disse ao cravo

Que sorriu para a avenca

E esta acordou a margarida

Ao fazer psiu pro pinheiro

Que alertou o coqueiro

E este ralhou com a dália

Que pediu então à hortênsia

Mandar dizer ao lírio

Rogar à chuva-de-ouro

Que chame a sua irmã de prata

Ou eles morrem de sede.

BEM-TE-VI

Bem-te-vi! Bem-te-vi!

Na mesma manhã de sempre

Pobre humano cambaleia.


Bem-te-vi! Bem-te-vi!

Leva o rosto até a pia

Lava os sonhos na água benta


Bem-te-vi! Bem-te-vi!

A vida real te espera, cara

Vê se acorda! (ele me avisa)


Esquece o canto de sereia

Vai à luta fantasma!

(O bem-te-vi-relógio alarmeia)


Esfrego os olhos mal dormidos

E percebo o foco de todo o alarido

Altaneiro, na antena da casa vizinha


Como se não soubesse de nada

Ele faz de conta que nem me vê...

Mas bem-me-viu sim! Ô alma penada!


Peito amarelo, cara pintada,

Por dentro,

Até parece sorrir!


Faz lembrar,

No debochado porte,

Índio guerreiro todo enfeitado

Que em pé-de-guerra com os homens...


Não quer deixar ninguém dormir!

LUA CHEIA

Esta noite saiu uma lua enorme

Sorrindo que era só dentes

Nunca vi outro riso tão lindo

Nem esmalte tão iridiscente


Destacou nuvenzinha distante

Aproximou corações de Deus

E realçou meus olhos brilhando

Morrendo mansos... nos olhos teus.

DISCURSO ECOLÓGICO

Outro dia vi passar uma menina

Tão linda...

Que esverdeou toda a avenida


Não perguntou a ninguém

Sobre crenças...

Apenas cumpriu seu destino.


E andava de um jeito tão gostoso

E bonito...

Como se dois tons de verde enfeitassem uma flor


E o mundo todo então...


Passou a amar o verde,

A sonhar com o verde,

A desejar o verde,

Mas tanto, tanto, tanto...


Que os muitos carros parados

Nem sequer buzinaram ou xingaram,

Enquanto aqueles olhos passavam...


E o farol

Desnecessariamente

Esverdeou...

NAU DOS DESFIBRADOS

Neste mar
Mal-me-quer
Bem-me-quis

Onde sou
Outro eterno
Aprendiz

Quase tudo há por fazer...

Um amor a descobrir
Uma estátua a alugar
A sorte grande encontrar
E fazer meu coração sorrir

Mas, não há tempo pra mais nada!

Pois, a minha canoa furou
E dos dois remos – troféu –
Uma cruz se ergueu ao céu
Ereta, jazigo...
Bem onde ela jaz
Encalhada...

CONTRAPONTO II

(feita em parceria com Joanna Darc)

Ser feliz é bem administrar conflitos,
É transitar um caos à beira do infinito
E, pondo os pés sobre brasas flamejantes,
Aplainar caminhos, mesmo em passos errantes,
Dando vida à canção, das ásperas notas de um grito.

Ser feliz é nunca pensar na morte,
Navegar rio acima contra a correnteza,
Domar o medo feito potro em grande porte,
E, galopando o dorso, da diáfana incerteza,
Louco.. rir-se da desmesurada sorte.


Ser feliz é um dúbio fato inexplicável,
Destinação inapelável dos amantes
Na moeda em duas faces conflitantes.
E, ultrapassando a dor contida no tropeço,
Re-inaugurar, sorrindo, a ponte ao recomeço.

É meditar antes de bater de frente,
Fazer da queda impulso para adiante,
Rimar carinho no chiste do repente,
Cair, levantar e seguir radiante,
Elegendo a vida, a sua mais escancarada amante.

(Joanna Darc e Sidney)

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO...

Em algum lugar
Perdido em meu olhar
Ontem desta vida...

Abriu-se impulsivamente
Inditosa ferida
Tatuagem na alma
Chaga incandescida
Que aos aritméticos anos
Não coube apagar

Em algum lugar
Adormecido
Nos confins do tempo...

O que eu não devia
Fiz desvalimento
Dei forma ao desamor
Semeei tormentos
E há essa noite agora
Mas, cadê o luar?

Em algum lugar
Que agora é
Passado...

Eu fugi de ti
Tolo e ensimesmado
E agora aguardo
O tempo
Dar o seu recado
E arear meu céu
Escuro e tão nublado

Pra novamente
Encontrar
Minha vida onde a perdi...

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

PERGAMINHO

Trago tatuado
Na orla de todo o meu corpo,
Como se em óleo sobre tela,
As marcas e remarcas
De todo um passado.

Como se compilado
Estivesse em mim,
Uma espécie de alfabeto morto,
Onde encantos e desencontros,
Bordados em róseo cetim,
Colorissem a pele-aquarela.

E de onde se pudesse saber,
Apalpando,
Nos relevos da cela indolor,
Os sonhos que morreram mancos,
De uma estranha história de amor...

PAUSA, QUE NINGUÉM É DE FERRO

Quando o tempo esquenta
Quando a vida insana
Quando o stress encena
Quando o “se” apoquenta
E este imenso calo é...
Pausa para o café.

Quando o amigo insana
Quando o stress barganha
Quando a vida encena
Quando o amor apoquenta
E o mau tempo espanta
Ou você não se agüenta...

Não esquenta:
Pausa para o café.

Podes crer camarada!
Quem avisa amigo é!
Não faz buraco no bolso
Cura todas as feridas
Extermina os alvoroços
E acrescenta perfume na vida...

É o grão-motivo,
É toda a causa,
Pausa...para o café!

SABIÁ

Quando tudo se encolhia
E o sol era a Valsa do Adeus
Um sabiá se despedia
Trinando ternura e alegria
Cantando aos ouvidos meus.

E era tão lindo o seu canto
Tão bonita a elegia
Que as outras aves calavam
Fechavam os olhos e ficavam
Em prece pra Ave Maria.

E assim outro dia ia embora
Foi assim que outra noite nasceu
Mas o sabiá continuou cantando
Bonito, tanto que ficou morando
Eterno, nas encostas do peito meu...

BORNAL

Bornal

Lá vão meus olhos famintos,
Andarilhando,
Perdidos no azul deste céu sem fim...

Como se asas me levassem assim,
Passarinhando,
Bêbado nos vôos de plenos sonhar.

E a saudade viesse até a mim,
Meninandando,
Desajeitada... igual uma adolescente desfilando,

Luarizando,
De brilhos e um ar de infinito,
Flash... as duas menininhas do meu olhar.

BOLO DE FUBÁ

Junte duas xícaras de açúcar
um tablete de margarina
E prepare o coração
Pra que tudo saia em cima

Pegue três gemas de ovo
E misture aos outros dois
Mas se concentre no bolo
Pra dar tudo certo depois

Acresça uma e meia de farinha
Com outra e meia de fubá
Some uma xícara de leite (morno)
E vamos ver no que vai dar

Ponha o fermento e bata bem
Toda a massa com atenção
Pois, quando pronto, este bolo,
Sempre traz recordações

De outro tempo e outra vida,
Que a gente viveu, mas partiu,
Tempo da infância querida
Que disse adeus e sumiu

Por isso capriche na massa
E reze muito pra acertar
Quem sabe a infância retorne
No cheirinho do fubá...

Apesar de Todos os Medos

Das muitas pontes que faço
Eu mais deixo é sinais escondidos:
Carinho contido, gesto ameno,
Olhar pensativo,
E um traço-menino
De animal já ferido.

Mesmo assim
Sou terno
Amigo, aberto
E até um pouco selvagem.

Difícil é conter a fúria do vento
Depois que,
Ao peito,
Ressuscitou a aragem...

É A VIDA

A vida...

Suas idas
E vindas

Esse seu
Ir e vir...

O inconstante
Ter e não-ter

O nascer
O morrer
O renascer...

Como o amor sói ser...

Às vezes o dia nascendo
E no horizonte apontando
Os sonhos meus,
Sonhos teus...

Outras vezes o sol aquiescendo
A descer a ladeira da tarde,
E...eis que arde,
Nas nuvens doiradas do peito,
O acenar de um novo adeus...

A Moda e o Sem-modos

E a conversa fluía acalorada:

- Hoje fiz mais de cem abdominais.

- Coitada! Eu já beiro duzentos e oitenta!!

- Nossa! Nojenta! Daqui a pouco você supera o intrutor!


(até entrar na conversa, alguém de “colan” bem moderninho)


- Vocês já souberam do professor??

- Não... por que querida?

- Morreu...

- Morreu????

- Ontem... de dor-de-barriga!

FANTAS (MINHAS)

As coisas que eu nunca aprendi
Guardo-as num lencinho branco
E o deixo longe dos meus olhos...

Meu medo de altura...
As notas de física e química...
Mexer com ferramentas caseiras...
O lidar com o afeto e a agressividade...
E, às vezes, até com o sexo
(Juro! De verdade!)

Mas, por ironia da enganação,
Carrego comigo a impressão,
De que o tal lencinho,
Vive sempre por aqui...

N’algum lugar...

Longe dos olhos,
Dentro do bolso...

CARANGOLÊS

Existe, de boca em boca,
Correndo os dias atuais,
Uma linguagem que faz o maior ti-ti-ti.

Trata-se do Carangolês...

Muitos até já falaram que ele abre
A porta do céu dos negócios,
Que desinibe os solilóquios
E desinflama também as orelhas, que poderoso!

(Já reparastes que a gente se sente como se estivesse
com as duas orelhas inchadas, quando chega numa festa?)

Ele é, obrigatoriamente,
Usado, nas festinhas de criança...
Também na sauna (masculina)
Nas festas de casamento.
E até por algumas mulheres
De grande AUTO-estima...

Fascículos certeiramente à venda
Nas drogarias (só tem droga mesmo!)
Nas bancas de jornais e
Nas redes de borracharia...

Carangolês!
Inicia-se com a famosa coçadinha no saco
E só termina quando já endurecido
Aquele cuspe de graxa enegrecido,
Subindo e descendo (feito louca!)
No canto esquerdo
De fedelhas bocas.

CÉU DE OUTONO

Entra dia, sai dia,
É sempre a mesma alternância,
A nossa inconstante constância,
De alma, de humor e elegância,
Nas instâncias da alegria,
Que envolve a vida ditosa:
Cinza ranzinza,
Vermelho pentelho,
Rosa polvorosa.

Entra ano, sai ano,
E é sempre a mesma ametista,
Colorindo a palheta do artista,
Maravilha a sumir das vistas,
Neste alegre céu de outono,
O beijo em azul da natureza:
Indigo bendigo,
Anil sutil,
Turquesa beleza.

Benditos sois, então,
Os caminhos de imensidão,
Que percorrem os olhos meus e os teus,
Pois nestas andanças das vistas,
Não mais somos equilibristas,
Alternando o nosso vil destino.
Agora viramos turistas,
E andarilhos percorremos,
Os caminhos do céu diamantino,
Nas terras benditas de Deus.

Carpe Dien

Naqueles olhos mora um caleidoscópio
Como uma visível placa de estrada
Falando dos sonhos inacabados
Da mulher...

É só olhar e se certificar
Do continente enorme,
Ainda a desbravar...

Semblante da Loba-Menina,
Muito mal-amada,
Cansada de ser
Mal-me-quer.

Senzala

Há um grito calado na noite.
Será que você viu?
Será que você ouve?
E na masmorra profunda do peito
A solidão brinca de açoites.

Solidão

Numa noite morna, escura, escura,
Em que olhei pro céu e não havia lua,
Percebi caravana de olhinhos piscando nas alturas,
Nas miríades de estrelas sorrindo travessuras.

Foi então que me surgiu a desastrada idéia
De voltar pra casa e, longe da luz da rua,
Sentar-me ao quarto pra ver quantas luzinhas,
Eu pescava do céu, na minha alma sem lua.

Mas foi triste...triste o resultado da aventura,
Pois, ao invés de mil olhinhos em burburinho,
Eu vi foi um menino em desventura,
Chorando...nunca haver estrelas em seu caminho.

domingo, 9 de setembro de 2007

Interminável Circo

Na teoria dos recomeços
Onde pinta sempre
Um sol matinal,
A esperança ressurge marota,
No peito, nos olhos,
Na boca...
E o nosso viver não tem preço.

Mas...
E tem sempre um mas...

Todo sol tende ao poente
E mais dia, menos dia,
O medo ressurge na gente,
De fissura, de deslize,
Ou tropeço...
Deixando na alma vazia
Um estranho buraco no peito.

E esquecemos, novamente,
Que o mais gostoso da vida
E que nos devolve o sorrir
É esse eterno desfolhar
Das margaridas...
No mal-me-quer dos maus tempos
Ou no bem-me-quer de
Um novo se abrir...

Imprevisível...

Dentro de estreitos limites,
Do imponderável ao factível,
No ranger das rodas do tempo,
E ao cantar do relógio cuco...

Eu sou sempre imprevisível.

Visto-me igual todo mundo,
Falo o que todos dizem,
Como o que todos comem,
Navego entre o são e o iracundo,
Tive início e espero o meu fim...

Mas, só eu sou maluco de mim...

Metamorfose do Eu

Quando o vazio se diz bem-vindo
E a vida perpetua cinza
A gente até troca de óculos
Ou muda os móveis da sala
Mas, que nada!
O dia permanece ranzinza...

Podemos dobrar os joelhos
Doar a dezena de artelhos
E nada evitará a solidão a dois
Programada, iniciada e concluída,
Quando largamos a sujeira pra depois

Há que se passar a vida a limpo
E, sem medo do enredo,
Faxinar todo e qualquer mal-entendido.
Desde o leve acordar,
Ou mesmo até a noite apontar
Que o dia é findo.

Sem mesuras de embrenhar no...
Cerne do tal porão,
Às margens de toda ilusão,
E onde um vilão dorme esquecido.

E de febril talhadeira na mão,
Na própria alma lapidar,
Um sol feito dia a afastar,
O medo que fez moradia,
Nas nuvens do coração...

Feito um Cais

Um cais do porto
Nunca é só um cais de porto...

Pode trazer aromas de peixe
Aves ao entorno
Sons e canções de marola
Nuvens de vendaval
Noções de infinito
Cheiros de sal...

Mas, um cais de porto
É, também, um pouco mais que um cais...

É um lenço branco à deriva
Uma ave cruzando o horizonte
Um coração em pleno Horto
E o barco do adeus atracando
Na alma encoberta de ais...

Mar Adentro


Faço um balanço de mim

Visito as minhas alcovas...

E os desfiladeiros
Deste imenso mar
Cheios de ventos traiçoeiros

Onde poucas ilhas
De descanso
Lembram que ainda há tempo bom

E uma réstia de paz
Vem dormir junto às ondas
Calmas de remanso

Nenhum ser é de todo mau
Ninguém é eternamente um bem

Pois se o percurso
É mar adentro
Há que se relevar, também,
As dificuldades do “bem olhar”
Quando pensamos ser “pop star”
Ou nos achamos um
Reles tormento...

Por isso os meus remos vão
Assim, assim,
Bem devagarinho...
Nas águas deste mar sem fim

Faço um balanço de mim
E não sei ser meu juiz

Onde tudo é por um triz
E falho é o discernimento...

terça-feira, 19 de junho de 2007

COMO UM SUAVE BATER DE ASAS

Como um suave bater de asas
Borboleteando leve e às tontas,
Senti a tua presença em mim.

Não sei precisar se eras vulto, em tule,
Se o aguçado e enternecido olhar,
Ou aquele velho e conhecido toque,
Arrepio, leve sussurrar...
Do antigo fogo amigo que aprendi a amar.

E foi tão forte a tua não-presença,
Tão presente o teu jamais estar,
Que percebi que, sem você,
Pareço transparente véu,
Um leve vulto, sem indulto,
Suave fremir de borboletas...

E que este meu desforço em
Te fazer ausente,
É como uma criança displicente
A querer brincar de se enganar,
De que o sol nunca pertenceu ao céu.

Pois, quanto mais eu invento
Em te fazer distante,
Mais tenuemente eu ouço
Você a sussurrar...
Presente!

quinta-feira, 7 de junho de 2007

O Menino e o Pirata

Você era o orvalho do dia,
Era a luz que em mim ardia,
No meu jardim a folhagem.

Mas eis que veio o mau tempo,
Trouxe breu e esquecimento,
Agora há somente miragem.

Por que será que o tal tempo,
Veste-se de humor agourento,
E em mim só pratica pilhagem.

Pois daquela imensa lua,
Que incendiava a minha rua,
Ficou só vazio e friagem.

E agora há um marujo assustado,
Um roseiral despetalado,
E a nau sem vela na garagem...

Orvalho

Anônimo e insuspeito

No leito de terra macia

Um botão de Amor-perfeito

Veio à luz plena do dia.


Bem perto um galo cantava

Um besouro passou zunindo

Um pardal piou no ninho

E o mundo roncava dormindo.


Somente um balofo aloirado

Fazendo sua ronda matutina

Emocionou-se ao ver o bebê a nascer,


E o sol, chorando, fez-se suave garoa,

Caiu do céu feito ternura à toa,

Que molhou todo o amanhecer.

Suave é a Noite

(feita em parceria com Ronise Fincato)

Ainda estou aqui...

São tuas todas as minhas flores rubras,
E estas duas iluminadas luas,
Enquanto me apago na noite, entre cílios e rugas,
Moldura em fundo verde, candura...olhar

Meu riso, escancarado e impreciso,
Ainda tenta fazer rimas com o teu silêncio,
Como se a matriz de todo o teu mutismo,
Pudesse fazer noites, noites e abismos,
Onde estes alegres pirilampos tentam voar.

O meu pranto - noite nem sempre triste-
Traduz também um pouco de sonhar.
Como se eu pudesse ver-te aproximar
...Devagarinho, feito um coral de crianças
E passarinhos... sorrindo, que ao vento
Do céu vespertino viessem me embalar.

A minha espera, ah! Esta noite!
Feita em gotas cristalinas de infinito,
Se parece com a pele da embaçada vidraça,
Que a tempestade sem qualquer pingo de graça,
Só conjugasse o verbo açoitar...

Enquanto ainda estou por aqui...

Porque tarda a noite, cala o meu querer,
Agoniza, tênue, a ingrata madrugada,
Eu que esperei, tanto, um sol acontecer...

Da noite, agora, restou só o bater
Suave, destas asas quase avermelhadas,
Borrifando no linho branco das nuvens,
O tom de duas luas tristes, ao entardecer...

Ronise Fincato e Sidney Pires

Coisas

Esta turva imagem

Esta curva imensa

Esse nó no peito


Essa tristeza infinda

Essa estiagem ainda

Este nó no peito


Este tempo perdido

Este menino aturdido

Essa dó assim


Essa dor encoberta

Essa chaga entreaberta

Este nó no peito


Este mundo pequeno

Este louco veneno

Essa ternura em mim...

PURGATÓRIO

Num calor insuportável

Suores deságuam pungentes

Os peitos arfam chorosos

As gentes vêem relógios

Os gestos traem os modos

E os olhares tecem crimes.


E não mais que de repente

- O próximo por favor!

Grita o caixa entre dentes...

E na fila do banco,

Todos refazem seus cálculos

Té que enfim tem menos um.....

O Cópia

Nas raias em que já corri

Pelos prados desta vida

Fui sempre a fava contada:

Zebra acabada!

Zebra listrada!

Zebra marcada!

Pelas linhas da vida...


Nas pelejas que empreendi

Nestes campos, em plena lida,

Fui sempre a pedra cantada:

Zebra esperada!

Zebra mancada!

Zebra anunciada!

Nas entrelinhas da vida...


Êita destino capenga

Quem não viu jamais verá,

A saga da zebra azarada:

Zebra largada!

Zebra zerada!

Zebra zebrada!

Pleonasmo ou clone, do que foi só pela vida...

Praia

Minha lua

De tão triste

Se atirou no mar


E eu agora,

Mato a saudade da amada...beijando

No seio das praias geladas


A espuma dessas ondas prateadas

Feito moças mal-amadas

Em plena cantoria


E que docemente espalham

Cinzas enluaradas

Por entre os dedos da poesia...

Razão

O papo ia bastante acalorado
Algo que mais se assemelhava
Ao duelo de tenor com um contralto
Portanto, bastante alto!

Era razão daqui
Razão desfilando ali
Era razão de mim
Era razão de ti
Estávamos em plena era da razão...

Até que um guri bem franzino
Com ar de surdo pivete
Pediu a vez pra falar.
E olhando pros olhos da dupla
Falou baixinho o menino:
-Psiu! alguém aí têm cotonete?

DOZE DE JUNHO

Neste doze de junho,

O dia amanheceu frio,

Frio e bonito,

Anunciando o inverno tardio,

Que se aproxima pensativo.


À noite,

Sei que os encantados

Irão se enlaçar no frio,

Frio e bonito,

E, saturados de alvorecer,

Tecer sonhos bons de se viver,

Mesmo que em tempo finito.


Nesta noite,

Eu estarei por aí a vagar

Fugindo do tal frio,

Frio e bonito,

Que vai tentar me bulinar

Encantamentos... bons de se viver, mas,

Pra me enganar, só pra me enganar...


À noite,

Acho que eu talvez nem saia,

Acho que eu não!

O dia é dos namorados,

Êita dia mais gelado!!!


Por mais que eu tente me enganar

O dia é dos namorados,

Só dos namorados...

NO ALTO DA NOITE DO MORRO HÁ UM CRISTO

De noite,

No imenso escuro da noite, só,

Seu argênteo vulto transfigura.


E tanto é o luto a envolver sua

Brancura,

Que a solidão, a bater-lhe

No peito,

Doi como um noturno açoite.


Por quê é tão densa assim,

Dos homens,

A noite ?


E por qual mítico motivo,

Que transcendental razão,

Se esconde no peito da

Argêntea figura

Tamanha solidão?


Juro que não sei...


Mas do alto,

Entre o pico do morro e

O chão dos astros,

A luz do Cristo que jamais

Conspira,


Desce e toca os nossos olhos,

Corações e mentes,

Como um carinho que jamais questiona,

Apenas entende-nos o olhar

E docemente abençoa.


E apesar da beleza e da magia,

Da enorme..... distância,

Do sentimento de

Grandeza e de poesia

Que a sua luz nos inspira,


Segue Ele só,

Literalmente,

Solitariamente...

Anônimo Peregrino

Por que a vida
Não nos cobra pedágio
Ou ágio,
Nem sofrer sem amar...

O destino
É o nosso adágio,
Poema,
Doce presságio...

Que nos pede
Somente
Amoroso
E anônimo

Peregrinar...